segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Juno


Esses dias o Lúcio Ribeiro assinou uma capa da Ilustrada, na Folha, falando sobre uma molecada que ele tinha visto tocar no festival de música da Cultura Inglesa. Ele separou alguns que tinha gostado bastante e, no seu blog, voltou a falar sobre o assunto, destacando uma tal Mallu Magalhães. Sobre o repentino sucesso da menina, ele disse: "em uma semana, um milhão de hits no YouTube. Mais de 500 mil entradas no MySpace. Capas dos cadernos culturais. Seis propostas de contratos por grandes gravadoras. Discussão e 'análises' acaloradas em comunidades do Orkut. Rainha dos blogs. Capa da 'Ilustrada'. Mais matéria no Folhateen".

Ouvindo as músicas da Mallu em seu myspace eu pensei: "ok, legal, mas por que tanto estardalhaço?". Acontece que essa menina aí tem 15 anos, canta bonitinho, tem um bom gosto musical cheio de referências folks e indies, e parece uma espécie de Cat Power brasileira. Bingo! É exatamente isso que pensei quando assisti ao Juno, um dos cinco filmes indicados ao Oscar de melhor filme.

Juno é uma menina de 16 anos que engravida e decide ter o filho para poder doar a um casal que queira adotar a criança. Tudo isso é levado com bastante naturalidade no filme, seja por seus pais ou por seu namoradinho. Ninguém se desespera, como se ficar grávida aos 16 anos fosse "ah, ok, é socialmente aceito", quando não é.
A sacada do diretor Jason Reitman (o mesmo de Obrigado Por Fumar) foi a de colocar uma menininha indie como protagonista em um tempo em que tudo que é jovem e parece inteligente é cool. A Juno tem dezesseis anos e se acha o máximo porque conhece Iggy Pop, assiste a filmes trashs antigos, usa uma roupa surrada e faz parte de uma banda. Todo mundo ficou apaixonado pelo estilinho alternativo dela, sendo que para mim ela mais uma dessas aí que andam pela Augusta.

A própria atuação de Ellen Page, a garota que faz a Juno e que está indicada ao Oscar de melhor atriz este ano, não é lá essas coisas. Ela começou a fazer sucesso quando protagonizou o filme Hard Candy (traduzido no Brasil vergonhosamente como MeninaMá.com). Nesse filme eu até tinha achado ela boa, mas ela interpretava uma menininha esperta, descolada, e que também conhecia bandas indies. Repetindo o papel em Juno ela me irritou um pouco.

O filme em si não é tão ruim, apesar de bobinho. Salvam as atuações de Allison Janney, como a madrasta da protagonista, e do Michael Cera, esse excelente como o bobão que a engravidou. O roteiro foi escrito pela ex-stripper Diablo Cody, que provavelmente deve levar o Oscar de roteiro deste ano. Eu particularmente tive dificuldade para identificar o grande talento dessa mulher, porque os diálogos são fracos, as piadas são forçadas e os esteriótipos são levados completamente ao pé da letra. O bobão é mesmo bobão, a indie é descolada, a madame rica é neurótica e a cheerleader é putinha. Por isso, não espere nada além de um filme bobinho com situações bonitinhas e comoventes. E DIGO MAIS: um filme não precisa ser profundo para ser bom, mas esse não é profundo nem bom.

"Escrito por Marcelo cobra
do site: http://e-digo-mais.blogspot.com"

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