sábado, 1 de dezembro de 2007

MISTÉRIOS DA CARNE


É no mínimo irônico que o melhor filme da carreira de Gregg Araki é também o primeiro a ter sido adaptado pelo diretor de outra fonte. No livro “Mysterious Skin” de Scott Heim, o diretor encontra o território perfeito para exercer suas teses sobre uma juventude indiferente e desafeiçoada, mas ao invés de estabelecer uma crítica ácida apoiada nas vigas da cultura pop, em “Mysterious Skin” o diretor trabalha a tal indiferença como um dos vários métodos que um ser humano lida com traumas do passado. É a primeira vez, inclusive, que a extensa enciclopédia pop do diretor (ex-crítico musical da “Rolling Stone”) é posta a serviço da história de maneira não intrusiva. A iconografia pop em seus filmes anteriores (o road movie “The living end”, a trilogia da juventude perdida: “Totally Fucked Up”, o ótimo “Nowhere” e o fraco “Geração Maldita”; e o simpático “Splendor”) tipicamente exemplificava o quão alienados eram seus personagens do mundo em sua volta, mas em “Mistérios da pele” essa iconografia salva suas vidas.

A apresentação do filme, que narra a infância dos personagens principais, é de difícil digestão e deve revoltar os mais conservadores, mesmo que estabeleça com propriedade alguns pontos dignos de discussão geral. Em uma cidadezinha qualquer dos EUA, dois meninos de 8 anos sofrem abuso sexual, mas encontram maneiras diferentes de absorver o evento: enquanto Brian acredita que, na realidade, ele tenha sido abduzido por alienígenas, Neil, que clama ser repleto de desejo sexual já naquela idade, propositalmente se faz atraente para cair nas graças do treinador de baseball pedófilo (um arrepiante-por-parecer-totalmente-normal Bill Sage). A narração em que Neil admite maliciosamente jogar com o desejo do homem mais velho é de deixar qualquer um desconfortável (exceto, claro, os pedófilos), mas se não é lá algo agradável de se testemunhar, ao menos funciona para quebrar os paradigmas norte-americanos sobre o sexo antes da idade adulta (onde a relação consentida entre alguém mais jovem e outro mais velho é chamada de estupro – “statutory rape” – se fosse no Brasil, a metade da população estaria presa). A cena em que o dito cujo acontece (e olha que nem é a mais pesada que o filme tem a nos oferecer) se passa em meio de praticamente todas as marcas de cereais produzidos pela Kellog’s, que deve estar enlouquecida a este ponto. A abertura do filme precisa ser subversiva porque as vítimas estão justamente subvertendo e aterrando os terrores desse passado.

Brian não se lembra do que lhe aconteceu na infância e cresce um adolescente assexuado (interpretado por Brady Corbet) obcecado por OVNIs, enquanto Neil (um incrível Joseph Gordon-Levitt) torna-se um michê que usa seu sex-appeal para manter as pessoas, especialmente seus amigos Wendy (Michelle Trachtenberg) e Eric (Jeffrey Licon), orbitando em sua volta. Particularmente, é interessante observar como Neil adota uma preferência por homens realmente mais velhos, carecas e barrigudos – conheço algumas pessoas que compartilham do mesmo fetiche e sempre assumi que fosse algo relacionado à presença (ou ausência) da figura paterna. Enfim, Brian percebe em Neil a chave para desvendar seu passado, mas Neil está a caminho de Nova York.

Se a sinopse parece a receita perfeita para um filme de cortar os pulsos, Araki foge de visões morais em preto-e-branco. Desde o início, o diretor adota um tom leve para a narrativa e, mesmo que o filme seja sexualmente carregado, há uma inocência que permeia todo o roteiro, desde o modo como Brian lida com o seu passado, como o modo que Neil lida naturalmente com sua homossexualidade. Apresentar dois personagens afetados pelo mesmo trauma, mas que acabam crescendo com personalidades tão distoantes permite ao espectador que ele mesmo diagnostique até onde o abuso sexual realmente os afetou enquanto pessoas – “Mysterious skin” não permite que acreditemos que Neil tenha se tornado gay por ter sido abusado, ou Brian um assexuado pelo mesmo motivo. Esse desafio torna o filme muito mais interessante, não fornecendo soluções fáceis e prontas para o espectador.

A grande força do filme consiste na performance de seus dois protagonistas. Corbet cria um personagem cuja confusão pessoal – maior que a de Neil, mas tão auto-iludido quanto – está enraizada em sua incapacidade de lidar com o passado. Quando ele se liga a Avalyn (Mary Lynn Rajskub), supostamente abduzida por aliens, seu relacionamento se revela um rodeio patético entre duas pessoas enganando a si mesmas e uma a outra. Mas a performance de Godon-Levitt é uma usina de forças. Quem diria que o adolescente nerd raquítico de “3rd. Rock From the Sun” poderia realizar uma performance tão devastadora e hipnótica? Na pele de Neil, Gordon-Levitt compõe um jovem que se esforça para parecer forte e auto-suficiente para as pessoas em sua volta, nem que para isso ele se faça de ignorante quanto à paixão de ambos os amigos por ele, o que faz o pedido de Neil para que Eric veja se seu pênis está infectado ser ainda mais insensível. Vale ressaltar os papéis menores, como a amiga-barba de Trachtenberg, o pobre-amigo-gótico-gay Licon e a mãe-bicho-solto Elizabeth Shue.

O caso é que Neil não recorda dos eventos de infância nem um pouco mais claramente do que Brian. Do abuso, ele não se lembra nem um pouco melhor do que os videogames ou os cereais da época, memórias periféricas que se entremearam no trauma durante o ritual de recuperação emocional de tal evento. Os personagens decidem confrontar as memórias desse passado sombrio e tais memórias sofrem um processo de osmose estética. Araki compõe um filme superior em que sua estética surpreendente encontra uma história de crueza e honestidade emocional que se completam num assombroso, mas esperançoso final, em que ambos os personagens descobrem que só podem se confortar um no outro. Imperdível.

Sabrina


Apaixonada pelo caçula de sua família de patrões mas desprezada por ele, uma jovem parte rumo a Paris e retorna totalmente transformada, despertando a paixão de seus dois patrões. Dirigido por Billy Wilder (Quanto Mais Quente Melhor) e com Humphrey Bogart, Audrey Hepburn e William Holden no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Figurino - Preto e Branco.

Dois irmãos pertencem à uma poderosa família, sendo um deles (Humphrey Bogart) é um empresário incansável e o outro (William Holden) é um playboy incorrigível. Mas quando a filha do motorista (Audrey Hepburn) retorna de viagem, após passar dois anos em Paris, o playboy se modifica e, como ela sempre foi apaixonada por ele, tudo seria muito fácil de acontecer. Mas se os dois se casarem um poderosa fusão deve ser prejudicada, assim o irmão empresário decide intervir e também acaba se apaixonando por ela.

A rainha


Logo após a morte da princesa Diana a rainha Elizabeth II decide manter-se reclusa, juntamente com a família real. É quando o recém-empossado primeiro-ministro britânico tenta reatar os laços entre a realeza e a população. Dirigido por Stephen Frears (Sra. Henderson Apresenta) e com Helen Mirren e James Cromwell no elenco. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz

A notícia da morte da princesa Diana se espalha rapidamente pelo mundo. Incapaz de compreender a reação emocional do público britânico, a rainha Elizabeth II (Helen Mirren) se fecha com a família real no palácio Balmoral. Tony Blair (Michael Sheen), o recém-apontado primeiro-ministro britânico, percebe que os líderes do país precisam tomar medidas que os reaproximem da população e é com essa missão que ele procura rainha.